top of page
logo_semfilete_edited.png

FE - Transformações, tecnologia e, sim, securitização no Brasil

  • Foto do escritor: Pedro Junqueira
    Pedro Junqueira
  • 12 de set. de 2020
  • 4 min de leitura

ree

Vamos passando por profundas transformações estruturais globais já há um bom tempo.

Entrada no mercado de trabalho de vastas populações que viviam à margem, inflação de consumidor perenemente baixa, politica monetária de juros baixíssimos ou negativos, passivos enormes de Bancos Centrais... Em paralelo, em múltiplos sentidos, restrição crescente imposta pelos limites físicos do mundo e do seu meio-ambiente.

Em 2020 a vida contemporânea é atingida por um choque exógeno, epidemiológico. Por conta da pandemia, de forma supostamente pontual, inclusive como forma de controle de estrago, são gerados déficits fiscais gigantescos, mundo à fora. O choque altera drasticamente a quantidade e o perfil da oferta e da demanda.

Estas transformações e o advento de 2020 parecem causar asset inflation e, por esta via, piora na distribuição de riqueza.

A evolução da economia é formada pela transformação tecnológica. Comportamento, produtos, consumo, logística, preço, meios de pagamento, investimento, produtividade, conhecimento, interação com o meio ambiente, tudo se adapta e se transforma respondendo à tecnologia. Particularmente em 2020, em função da epidemia, as alterações de toda sorte são intensificadas. No mercado de capitais ou, inversamente, nas capitalizações de mercado, 2020 testemunha uma enorme concentração de valor, e de riqueza, em cima do que se sucede com algumas grandes empresas de tecnologia, as bigtechs.

Concomitantemente, e vinculada, se desdobra a política. Rejeição ao establishment, este muito devagar, aumento do populismo e radicalizações à direita e à esquerda. Em todo lugar, quando alguém é eleito, pelos menos 50% do eleitorado parece odiar mortalmente este eleito, e depois ainda piora. A tecnologia é parte fundamental do quadro, através da infinitude de conteúdos que são produzidos diariamente nas redes sociais, engolindo a mídia histórica. E a vida digital substitui a interação física, impactando diretamente a comunicação e a influência política.

Preocupante, principalmente em 2020, são os desdobramentos destas transformações no âmbito da educação. Sua versão formal, institucional, corre atrás, busca se adaptar, se reinventar, e é chacoalhada, por ora, pelos obstáculos logísticos decorrentes da pandemia. O desempenho em educação, nunca é demais lembrar, é fator determinante do futuro de uma sociedade.

Bom, e no Brasil, como tem sido? Em muito tem sido parecido, mas piorado. Piorado porque em momentos de estresse, a falta de planejamento e de recursos acentua a gravidade. Um nível alto de dívida e de déficit fiscal, uma infraestrutura demandante de investimentos, um desempenho educacional precário, fazem do Brasil um caso mais difícil. Infelizmente, no quesito política, frequentemente demais carecemos da capacidade de consenso e deliberação, quiçá eficiência, como, ou pior ainda que em outros lugares. Toda esta discussão, em termos de Brasil, se torna grande demais para este post.

Algo que parece auspicioso no Brasil, embora segmentado, e cabe, sim, como fechamento deste post, sem perder o fio da meada, é o avanço possível, decorrente de todas estas transformações contemporâneas, nos mercados de crédito e de securitização. Avanço possível em função da atuação de nossos reguladores, de nossa própria política monetária, das mudanças estruturais tratadas aqui, mas, principalmente, da transformação tecnológica. Como assim?

A evolução dos mercados de crédito e de securitização, neste momento, no Brasil, passa pelo desenvolvimento de determinadas condições que são ditadas pela tecnologia, além do conhecimento e da especialização de seus profissionais. A tecnologia, que começa a se mostrar efetivamente disponível, permitirá, finalmente, a análise básica de risco padronizada, que é um produto de inteligência de dados, rodado por modelos e máquinas. As carteiras diversificadas serão desenhadas e monitoradas através de modelos estatísticos, os quais se fundamentarão em históricos robustamente ricos em dados.

Neste mundo, que começa a surgir por aqui, com o advento dos registros digitalizados de todos tipos de crédito, que digitalmente também serão originados, finalmente a prática da análise de risco e da precificação estarão superando sua fase mais rudimentar, aquela excessiva e ineficientemente dominada pelos riscos jurídicos e de fraude.

Assim, nesta próxima fase de sua evolução, em função dos ganhos de tecnologia, finalmente se desamarrará o potencial de valor agregado do mercado de securitização no Brasil. Por exemplo, as vantagens econômico-financeiras a partir de operações de securitização estruturadas com fatiamento múltiplo de seu passivo, em um mercado mais líquido e desenvolvido de grandes investidores buscando otimizar alocação, potencializarão as possibilidades de captação, custo e investimento. Nesta trajetória, a securitização, mais competitiva, conquistará espaço junto a novos tipos de tomadores de recursos e, em algum ponto, se libertará da muleta da isenção fiscal para o investidor, que distorce e atrasa.

A modelagem de precificação, para determinadas carteiras e os títulos lastreados nestas, será substancialmente aprimorada, levando-se em conta agora o risco de pré-pagamento, voluntário e involuntário, cada vez mais relevante em um ambiente de juros baixos e de maior eficiência na mobilidade de empréstimos.

Profissionais do mercado de securitização, estejam certos, a direção é esta. Assim, nunca deixem de buscar aprender mais e fazer melhor, porque estamos apenas começando! As transformações são múltiplas e o Brasil terá que sobreviver. Mas a tecnologia já vem atropelando faz tempo. E nos mercados de crédito e de securitização o dever de casa começa a ser feito, adaptando-se o terreno para a realização dos ganhos da transformação tecnológica. Como diria um jogador rubro-negro no ano passado: será outro patamá!

Comentários


bottom of page