FE - Securitização resolve
- Pedro Junqueira

- 6 de ago. de 2020
- 3 min de leitura

As incertezas da pandemia, ainda altas, já diminuíram a partir da reação de aprendizado da sociedade e da ciência. Mecanismos extraordinários de política econômica foram colocados em prática, apoiados por um mínimo de consenso político. Os juros despencaram e a economia vem ensaiando alguma recuperação depois de bater no chão.
Ações de bigtechs dispararam em valor para territórios jamais concebidos. Empresas de varejo que migraram bem seus negócios para o universo online também se valorizaram muito. Commodities se fortaleceram. No consolidado, os índices de ações, nos principais mercados mundo afora, dependendo de seus respectivos teores de tecnologia, subiram bem, variando seus alcances até o presente momento na faixa entre 85% e 115% de seus picos pré-pandemia.
Mas inflação, por ora, ainda é morta. Não a de ativos, mas a de produtos, tal qual calculada. E o desemprego se elevou globalmente. Passados alguns meses desde o pior, ao invés de um V, provavelmente será um Swoosh da Nike a trajetória de recuperação econômica. Ainda mais no Brasil, com seus entraves estruturais e fiscais.
Mas, de toda forma, uma recuperação deve ser. E o que a securitização tem a ver com isto?
Ora, os mercados de ações e de títulos dos governos, ajudados pela liquidez extraordinária proporcionada pelos Bancos Centrais, estão, no mínimo, já muito bem precificados a esta altura dos acontecimentos. Por sua vez, o crédito privado, que no começo da pandemia foi visto como fonte de perigo, parece começar a virar a balança. Ou seja, juros baixos e demanda por investimento e consumo assumem o primeiro plano do racional, e inadimplência se desloca um pouco do centro protagonista. Já seria o suficiente?
A real beleza da tecnologia da securitização reside em seus mecanismos de reforço de crédito, além da possibilidade de diversificação, esta última uma realidade também para operações de fundos padrão de crédito privado, quando se trata de créditos regulares. É por conta dos reforços de crédito, que para serem efetivamente usufruídos dependem de um grau razoável de desenvolvimento de mercado, que as operações de securitização podem agregar valor tanto para captadores como para investidores de recursos. Em um momento de inércia dos bancos como fornecedores de funding, e de baixo retorno esperado ajustado ao risco para investidores, em todos os mercados, algumas operações de securitização surgem como auspiciosas. Como assim?
Por exemplo, para citar algumas, operações de securitização com lastro em fluxo de recebíveis de concessionárias, em recebíveis comerciais, em créditos imobiliários e em dívida corporativa podem oferecer ótimos prognósticos. Vai depender do dever de casa bem realizado previamente, e ao longo da operação, principalmente pelo investidor e pelo estruturador e gestor destas operações.
Pois entre a originação da carteira e eventuais garantias, sua eventual diversificação, os mecanismos de reforço estrutural, e a qualidade dos serviços fiduciários prestados, pode-se pôr em pé, ou em pé já está por aí, operações de securitização que representam, ao mesmo tempo, soluções diferenciadas de funding para captadores, e ótimas opções alocativas de agregação de retorno esperado ajustado ao risco para investidores, em meio ao atual cenário econômico financeiro.
Embora ainda incipiente sob determinado olhar, o mercado de securitização vem avançando incrementalmente, na prática e no regulatório. O segmento de FIDC, que apanhou um pouco em 2012, é o que mais se desenvolveu, justamente em função do aprendizado decorrente daqueles tropeços. Os mercados de CRI e CRA vêm progredindo também mais recentemente.
Por um lado, chama-se atenção aqui para a transformação tecnológica no ambiente operacional que vem ocorrendo no mercado de securitização, com evolução in tandem do seu marco regulatório. Trata-se da crescente digitalização na execução de negócios, da desmaterialização de funções como a custódia, e da intensificação de processamento de dados. Por outro lado, falta muito ainda em termos de construção de inteligência de dados no mercado de securitização. Análise e monitoramento de operações estruturadas com carteiras pulverizadas requerem históricos robustos de dados de desempenho e de comportamento.
Mas tratam-se agora de avanços necessários que são mais específicos do mercado de securitização. A ideia é, a partir do desenvolvimento deste mercado, se concentrar mais na abordagem e análise dos riscos específicos de crédito e dos mecanismos estruturais presentes nestas operações. Porque um risco que historicamente inviabilizou, em muito, o desenvolvimento do mercado de securitização, um risco de mercado, que é o nível da curva de juros na economia, parece finalmente ter sido mitigado.
É hora de avançar, de atrair investidores, e assim provar com mais contundência o valor agregado do mercado de securitização na intermediação financeira.




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